Passos Indiscretos
terça-feira, 5 de março de 2013
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
If I could be who you wanted...
Remexendo em meus guardados, achei uma seleção que intitulei "continhos". Cometi o erro de não anotar o nome do autor, e agora não o sei para lhe conceder os créditos. Mas vale muito ler. Então, eis-lo aqui.
"A promessa
Lábio-me com seu beijo,
esquecendo as infelicidades polvilhadas por um deus sádico, ventre-me com o
desvelo mais generoso, alma-me de nós penetra, de alvos murmúrios e sons de ódio,
o dia mesmo.
Quantos dois de um outro, quase impossível acreditar num verbo tão
impotente, amar. Co(r)pos esparramados pelo púlpito, padre a observá-los numa
frenética busca pelo onipotente, alcorão aberto enquanto Minotauro usando de
seu fio, Ariadne encara, mãos clitóricas a despejar meneios de algodão, flácida
dor de encantos num voo trêmulo rumo ao filho impossível, dono de nós, putas
rejeitadas, coroinhas indecentes, bispos panteístas, meu latim arrogante para a
boca sedenta de novos sêmens, travesti onírico para as fomes de todos os
buracos, enquanto nos transbordamos deste sangue virginal que usamos para
brindar à Baco e comemos da sua carne, minha querida, fonte incessante para meu
canibalismo, então poderemos estar juntos, um dentro e outro, fora, numa dança
para a remissão dos instintos que escondemos até hoje, quando tudo se
modificou.
Amém."
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Aborrecida
Minha
estupidez não me deixa ver... Nunca aconteceu, a não ser na minha ignorância de
querer o que você jamais foi pra mim. Não vejo mais aquele sorriso, nem verei.
Avisto apenas uns olhos mornos e uma sombra de mulher ao teu lado.
E nem sei
por que ainda dói. Uma dor morna, aborrecida. Um fantasma pra me assombrar nos
cantos do tempo onde você ainda existe. Tuas mãos que ela toca ao acordar e que
eu, estúpida, não.
Arrasto você
morto no meu peito, remexo no vazio onde há terra bruta de onde arroto as lembranças
do quase nada que me deste.
Vou tocar
fogo na memória e espalhar as cinzas da tua cor num canto da vida, em algum
gole amargo até queimar os ossos, e esquecer.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Anúncio
Sendo este um jornal por
excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em
negrito:
precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar
contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria,
e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto
paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz
como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram;
precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e
nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais.
Essa pessoa que atenda ao anúncio
só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que
venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que
a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha,
implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo.
Em troca oferece-se também
uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito
de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de
prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas
juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Alívio
Alívio
Eu desço pra mais uma dose, um pouco mais de
fumaça.
Enquanto você sonha não sou capaz de grudar os
olhos.
E são tantas as palavras escapando que não posso
segurá-las.
Enfim, o que sou eu e essas bobagens, com tanta
dor espalhada pelos cantos?
O que são minhas lágrimas mudas por não me
aceitares quando jorra sangue dos olhos de inocentes?
Não é nada, logo passa. Logo você olha pro lado,
e agradece pelo milagre da vida, tão maior que essa bobagem que você sente. Por
sentir-se só.
Apenas por
sentir um pouco de solidão. E quando você realmente pensa, olha de novo,
pro lado, logo ali, tão perto. E vê a dor do outro, tão maior que a sua. Tão infinitamente
mais penosa que essa alucinação de tristeza que você sente.
Então acorda feliz. Não dorme, mas sente aquele
alívio por todos estarem vivos. Nem tão sãos, mas vivos.
Caminhem pra luz, pequenas crianças.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Tchá Tchá Tchá
Soldier Of Love
Lay down your arms and surrender to me
Oh, lay down your arms and love me peacefully, yeah
Use your arms for squeezin' and please
I'm the one that loves you so
Oh there ain't no reason for you to declare
War on the one who loves you so
So forget the other boys 'cause my love is real
Come off your battlefield
Lay down your arms and surrender to me
Yeah, lay down your arms and love me peacefully,
Use your arms for squeezin' and please
'Cause that's the way it's gotta be
The weapons you're using are hurting me bad
But someday you're going to retreat
'Cause my love baby is the truest you've ever had
I'm a soldier of love that's hard to beat
Lay down your arms and surrender to me
Lay down your arms and love me peacefully, yeah
Use your arms to hold me tight
Baby I don't wanna fight no more
Oh baby, lay down your arms
Please baby lay down your arms
por Bárbara Camozzato Rabelo.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Cuida!
Guarda!
Eu te guardo
aqui no peito.
E te espero
chegar.
Eu vejo
aquela tarde de sol, e ainda sinto teu gosto na boca.
Teu cheiro
na pele.
Tua alma na
minha.
Mãos que me
lavam, braços que me sustentam.
Esse espaço
entre os seus dedos...
Me manda
esses sinais mas não entendo o que me dizes.
Se fogem ou
procuram seus olhos, é palavra muda em minha boca
Tira meu
escudo e te descobre.
Deixa-me
ver-te.
Deixa-me
estar, um beijo só.
Guarda! que
foges de mim, e podes não voltar.
Não te percas
na longitude da minha sombra.
Escuta, que vou! Em um dia de sol, uma tarde nublada,
uma solta primavera, outros passos, me vou...
A fotografia foi tirada no Jardim Botânico de Paris. Ao caminhar, me deparei com a solitária senhora, em meio as flores, observando a vida passar. Me pareceu oportuno associar a imagem ao poema.
Assinar:
Postagens (Atom)